Coluna do Zé: Resiliência
Coluna do Zé: Resiliência
Salve, torcedor dos Saints!
Resiliência é uma palavra que entrou na moda alguns anos atrás (para justificar a exploração do trabalhador, mas isso é assunto para outro lugar) no mundinho LinkedIn e suas variações de coaches picaretas espalhados por aí.
E já que a vida do torcedor do New Orleans Saints é aquela tragicomédia, onde é melhor rir para não chorar em posição fetal o tempo todo, vou embarcar nessa picaretagem e tirar onda de nós mesmos.
Fechando a semana 5 da temporada 24-25, o New Orleans Saints foi até o Arrowhead Stadium enfrentar o atual bicampeão do Super Bowl, o Kansas City Chiefs, e mostrou aquilo que vinha mostrando nos últimos anos.
Uma derrota miserável, pelo placar de 26 a 13. Esperada por quase todos, óbvio. Mas pelo menos foi sem dor e sofrimento, não foi no último lance da partida.
Tudo poderia ser diferente
Foi na primeira campanha do jogo. Eu estava até ficando impressionado. O ataque fluindo, caminhando bem, passando do meio campo. Eu pensei comigo: “será?!?”.
Doce ilusão. Derek Carr tratou de colocar todo torcedor dos Saints com os dois pés no chão, bem plantadinhos.
Uma interceptação pra lá de ridícula, estúpida até, na primeira pressão que Chris Jones e sua turma deram nele. Um balão pro alto, para a lateral (segundo ele em entrevista pós jogo) que caiu no colo do defensor, que ainda correu para a pick six, só que não valeu, teve um down by contact.
Mas até aí, tanto faz se iam valer os pontos ou não, a gente já sabia que não ia dar. O jogo só não acabou ali porque tem torcedor que é tonto. Eu mesmo fiquei muito na dúvida se já desligava a TV, se desistiria de ver o restante do jogo.
Nada dava certo
O jogo só não foi patético porque os Saints deram jeito de permanecerem vivos durante quase todo o jogo. Os números do jogo não são condizentes com o placar. Patrick Mahomes desfilou, apesar de todo trabalho que a defesa deu. Podemos considerar que foi até um bom trabalho. Até sack conseguiram, com Chase Young.
A defesa segue no padrão “enverga, mas não quebra”. Cedeu apenas dois touchdowns para o time de Mahomes, ambos em jogadas de corrida, mas cedeu cinco tentativas de field goals, das quais o kicker de masculinidade frágil anotou quatro, que foram a diferença no placar.
O problema é esse. Os rivais chegam na zona de pontuação, o ataque dos Saints não chega. Não tem essa possibilidade de anotar pontos.
Vou citar alguns exemplos. Alvin Kamara teve apenas 11 tentativas de corrida, conseguindo apenas 26 jardas, e recebeu seis passes para 40 jardas. É o primeiro jogo da temporada em que ele teve menos de 100 jardas de scrimage.
Chris Olave teve duas recepções. Duas. Para 10 jardas. O quarterback não consegue usar o seu melhor recebedor. Tem algo errado aí.
Rashid Shaheed teve quatro recepções. Quatro. Para 86 jardas totais. Uma delas foi um touchdown de 43 jardas, num passe em profundidade já conhecido da dupla Carr-Shaheed. Linda jogada por sinal. Pena que foi só isso, praticamente.
Muita pressão em Carr
O problema de não se ter uma linha ofensiva saudável e funcional, é que o ataque não funciona quando se joga contra um time que tem Chris Jones e seus amigos. Eles são muito bons, na pressão ao quarterback e na cobertura da secundária.
Derek Carr não aguenta uma pressão sem espanar. Foi assim na sua interceptação da primeira campanha, foi assim em muitos momentos do jogo, com passes errados, fáceis até.
Sem uma linha ofensiva funcional, o jogo terrestre não funciona. Não adianta querer que Alvin Kamara, ou qualquer outro running back, corra contra uma parede. Não vai funcionar, não funcionou. De novo.
E essa pressão resultou numa lesão de Derek Carr, no meio do último quarto, quando o time ainda corria atrás do placar e tinha chances reais de alcançar os Chiefs no placar, num passe em profundidade, em uma quarta descida, para o wide receiver calouro não draftado, Mason Tipton. Sem chance. Turnover on downs.
Tinha chances porque, na campanha anterior, o time dos Saints chegou à endzone adversária com Foster Moreau, após uma interceptação muito divertida na endzone com o defensive tackle Khalen Saunders (a lei do ex não falha), que ainda correu por 35 jardas, num momento bola de demolição em ação.
A interceptação foi forçada por Paulson Adebo, que falhou momentos antes cedendo uma falta de 46 jardas por interferência de passe. A defesa tem cedido muitas big plays.
A última campanha dos Saints, já no desespero, foi conduzida por Jake Haener, que completou duas de sete tentativas de passe, e terminou num turnover on downs. Desespero porque, depois do touchdown dos Saints no começo do último quarto, os Chiefs anotaram mais um touchdown e mais um field goal. Só isso.
Os Chiefs são insuportáveis
O time do Kansas City Chiefs é insuportável. Ser rival desses caras não é fácil não. Ainda bem que só os encontramos a cada quatro anos, geralmente.
Para se ter uma ideia do quanto esse time de Patrick Mahomes e Travis Kelce se reinventa, eles jogaram sem os seu principal wide receiver, Rashee Rice, e seu principal running back, Isaiah Pacheco, ambos na Injured Reserve.
Dito isso, Juju Smith-Schuster teve um jogo de 130 jardas e Kareem Hunt correu para 102 jardas anotando um touchdown. Eles não faziam algo parecido desde 2020. Além disso, Kelce renasceu, com 70 jardas em 9 recepções.
O outro touchdown foi merecido, anotado pelo calouro de primeira rodada, o valioso Xavier Worthy. Logo após o segundo touchdown dos Saints, para não dar qualquer chance.
O ataque flui, mesmo contra boas defesas, como a dos Saints. Mahomes pode não anotar touchdowns de passe, mas eles dão seu jeito. Como é bom ter um treinador e um quarterback, não é mesmo? Parabéns ao Vovô Leôncio, quer dizer, Andy Reed, e sua equipe.
Tolice ou auto punição?
O New Orleans Saints sente falta de Taysom Hill. Muita falta. Mas eu diria que sente mais falta da linha ofensiva dos primeiros jogos, com Eric McCoy e Cesar Ruiz.
Aquele ataque mágico das duas primeiras semanas precisa de muita coisa dando certo para acontecer. Isso pode voltar a se repetir? Não sei, depende de muitos fatores, e o departamento médico dos Saints não ajuda em nada.
Mas pode ser que sim, basta se reajustar. Voltar à forma original.
RESILIÊNCIA
substantivo feminino
- física: propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.
- figurado: capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
Klint Kubiak é novo na casa, ainda não conhece todo o potencial de todos os jogadores. Vou dar o benefício da dúvida. Mas acredito que ele já esteja percebendo que tem que tirar o poder de decisão de Derek Carr. Ele precisa. A gente precisa.
Semana que vem a gente vai estar aqui, depois de assistir mais um jogo em frente à TV. O objetivo de chegar na semana 7 com 4 vitórias já foi de arrasta pra cima. Mas ainda tenho esperanças, sim. Tudo passa por uma vitória contra o Tampa Bay Buccaneers, no Caesars Superdome.
E o time precisa evitar lesões a todo custo, pois o jogo seguinte será o Thursday Night Football, contra Sean Payton de volta ao Superdome, agora à frente do Denver Broncos de Bo Nix.
Sigo acreditando numa recuperação do time, numa campanha positiva e numa classificação aos playoffs. Eu acredito mesmo. Sou daqueles que se iludem e se decepcionam no fim, mas vou fazer o quê?
Eu sou aquele torcedor tonto que não desligou a TV.
Bora, Saints!
Assine a newsletter para receber direto em seu e-mail: mundowhodat.substack.com
Por José Eduardo Zanon
Venha me ver falando bobagem e sofrendo com o New Orleans Saints em outros lugares, no Bluesky, no Threads e no Instagram.
Foto de capa: Carl Granderson bem que tentou, mas não conseguiu parar totalmente Patrick Mahomes (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)
Todo castigo é pouco