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Derek Carr está se beneficiando muito do ataque reimaginado do Saints

Derek Carr está se beneficiando muito do ataque reimaginado do Saints

O treinador do New Orleans Dennis Allen explica o que ele estava procurando quando deixou para trás o complexo sistema de Sean Payton e contratou Klint Kubiak.

Albert Breer para a Sports Illustrated em 16 de Setembro de 2024 | Traduzido por Raphael Isidoro

Dennis Allen colocou em janeiro uma meta de reimaginar as fundações do ataque do New Orleans Saints pela primeira vez em uma geração. E onde o head coach da equipe chegou, depois da procura total por um coordenador, foi em um plano que tinha o objetivo de mudar as coisas desde sua base.

E tinha lógica nisso.

Sean Payton, o maior treinador da franquia, chegou na Lousiana em 2006. Ele passou 16 temporadas construindo e colocando em prática um sistema historicamente muito bom. Em 2009, Pete Carmichael Jr. foi promovido a ser seu braço direito como mente ofensiva, e coordenador, depois de Doug Marrone deixar o cargo pelo emprego em Syracuse. Carmichael ficou no cargo por 15 anos, se tornando o chamador de jogadas em 2022 quando Payton saiu e Allen foi escolhido e promovido em seu lugar.

Ninguém está reclamando do que aquele esquema fez. Mas vindo de duas temporadas sem playoffs, Allen sentiu a necessidade de mudar a página. Um problema, definitivamente, era como tão complexo o ataque tinha ficado. Não existia limite no volume de coisas que Payton, Carmichael e Brees podiam assimilar, então por anos e anos – e como o futebol ofensivo se tornou mais simples, mais rápido e mais fácil para os jogadores em outros lugares – o livro de jogadas de ataque do Saints ficou mais pesado e mais enrolado.

O que funcionou para Brees e companhia por todos esses anos não funcionou da mesma forma para os mais jovens.

Colocando de forma mais simples, Allen queria alguém que desenrolasse o ataque do Saints.

Seguro dizer que, depois de dois jogos em 2024, ele achou.

No domingo, o Dallas Cowboys não teve nenhuma chance. Estava 35-16 no intervalo. New Orleans marcou touchdowns em todas as suas seis posses nos primeiros três quartos, não devolveu a bola até faltar 9:43 no relógio e não teve nenhum three-and-out na vitória por 44-19. Isso logo depois de um 47-10 sobre o Carolina Panthers na estreia que, evidentemente, foi mais que só sobre qual era o oponente.

No controle de tudo isso, Klint Kubiak – o filho de 37 anos de Gary Kubiak que Allen escolheu para simplificar e colocar turbinas no ataque – estava incentivando seus jogadores a jogar mais rapidamente e mais livremente com suas mentes mais limpas. E a parte interessante é que talvez ninguém esteja se aproveitando mais disso que o jogador que aguentava o volume do sistema anterior. Derek Carr, nos seus 33 anos, jogando muita bola e os Saints marchando.

“Ele está em uma situação muito boa,” disse Allen uma hora depois do jogo. “Ele está muito confortável com o que é pedido para ele fazer. Ele sabe que não precisa fazer tudo. Tiveram muitos momentos na sua carreira onde tudo esteve sobre seus ombros, como ele joga, colocar todo mundo certo na jogada, as leituras corretas, as proteções certas, todas as coisas certas. Nós colocamos um pouco mais de pressão em nós como treinadores para apresentar juntos o plano de jogo propício e deixar ele livre pra jogar.”

“Eu acredito que você vê quando ele está protegido e tem pockets limpos para lançar, que ele é muito bom.”

E você pode dizer isso sobre muitas coisas do Saints nesse momento.

O termo que alguns dos jogadores cunharam e que estiveram no sistema de Mike Shanahan e Gary Kubiak construído em Denver três décadas atrás é “a ilusão da complexidade.” A ideia é fazer as coisas mais simples para os jogadores para que eles possam jogar mais rapidamente, enquanto os treinadores aguentam o peso de fazer isso parecer difícil para as defesas. Isso se consegue por meio de formações, movimentações e trocas de direção, e todos os pequenos detalhes que fazem uma jogada – aparentemente – parecer igual as próximas três jogadas, mesmo que a bola possa ir para quatro jogadores diferentes nesse recorte.

Dada a tarefa que Allen pegou de deixar Carmichael para trás depois da temporada de 2023, essa foi uma coisa que fez de Kubiak atrativo. Mas não foi a única coisa.

O head coach do Saints também gostou das cicatrizes que Kubiak carrega. Ele por duas vezes foi demitido do grupo de treinadores – em 2021 com Mike Zimmer em Minnesota, e em 2022 com Nathaniel Hackett em Denver – antes de ser acolhido por Kyle Shanahan e seu expressinho para o Super Bowl em 2023. Ele teve oportunidade de chamar jogadas pela primeira vez com os Vikings, mas não deu certo. Ele voltaria a ter uma nova chance depois de avaliar o que deu certo e o que deu errado, Allen pensou, e ser capaz de já começar em um ritmo acelerado e cheio de entusiasmo.

“Eu sabia que ele era inteligente,” disse Allen. “Sabia que ele tinha a mentalidade de campeão. Ele já tinha feito isso antes. Isso é parte do que eu estava procurando. A coisa que separava ele dos outros é que ele já foi até a final, então ele já esteve sob essa pressão. Já experimentou algum êxito com isso. Já experimentou algumas falhas. Acho isso muito importante para um jovem treinador, aprender o que dá certo, o que não dá certo. Estar com o Kyle Shanahan por uma temporada, eu penso que é um dos melhores chamadores de jogadas na nossa liga. É uma combinação de muitos fatores.”

A outra coisa foi, ao procurar ter um ataque que fosse balanceado, e complementar com sua defesa veterana, a grande influência na indústria que Kubiak tem permitiu que trouxesse um robusto corpo de treinadores com ele que pudesse instalar um sistema muito completo.

Entre suas primeiras contratações estava Rick “Rico” Dennison, de 66 anos, e um dos pilares do sistema Shanahan, que esteve em Denver com Mike Shanahan durante seus 14 anos de carreira em Denver.

Ele também contratou o treinador de linha ofensiva John Benton, e que já está nessa função por mais de 20 anos, sendo o responsável pelas linhas (ofensiva e defensiva) no grupo do Gary Kubiak em Houston, e o treinador de quarterbacks Andrew Janocko, começando sua carreira com Klint em Minnesota de 2019 até 2021.

“Essas são pessoas que eu senti que eram bons treinadores de futebol americano,” disse Allen. “Esse sistema tem tido sucesso. Com Rico sendo capaz de gerenciar o jogo corrido e mais algumas pessoas pensando em como a gente quer executar os passes, realmente acho que existia uma familiaridade e uma coesão que já estava pronta com esse time de treinadores. Essa é uma das coisas que é mais difícil de um grupo conseguir, essa coesão onde todo mundo vê as coisas da mesma maneira.”

“Nós fomos capazes de começar dessa forma.”

Então quando eles chegaram em fevereiro, depois de Kubiak terminar sua participação no Super Bowl, eles não chegaram em um ritmo acelerado – eles já estavam voando.

O objetivo, claro, era fazer os jogadores se mexeram tanto quanto.

Carr, com seu mérito, percebeu logo de cara como isso estava impactando nos seus companheiros.

Depois do atropelo da semana 1 contra o Panthers, ficou óbvio para ele o que o sistema estava fazendo com os seus colegas de time como Chris Olave, Alvin Kamara e Rashid Shaheed, todos aqueles que, basicamente, podem voar como atletas.

“Eu não sou o cara que vai correr 40 jardas em 4.20 segundos mas nós temos alguns desses, e isso os ajuda a jogarem mais rápido mentalmente,” Carr disse depois da vitória contra o Panthers. “Isso também me dá a chance de jogar no limite das defesas e fazer as coisas acontecerem com as minhas pernas, ganhando jardas assim. Isso permite que a gente jogue com mais velocidade e usemos nosso porte atlético e todas essas coisas. É muito divertido.”

E se Carr parece ter perdido as amarras, bom, essa é uma boa observação a se fazer, também.

Ele “apenas” lançou para 443 jardas nessas duas semanas. Mas ele tem sido letal. Contra o Panthers ele teve 19 de 23 passes acertados para 200 jardas, três touchdowns e um rating de 83.1. No primeiro tempo contra Dallas, Carr teve o rating perfeito (158.3), terminando com 11 de 16 passes completos para 243 jardas, dois touchdowns (e um corrido), uma interceptação e um rating de 99.4.

Em ambos os jogos, ele teve bombas lançadas para touchdown no primeiro quarto para Shaheed (59 jardas contra Carolina e 70 jardas contra Dallas), o que levou a grandes vantagens colocando o jogo corrido em primeiro plano com 180 jardas contra o Panthers e 190 contra o Cowboys.

Para Allen, está sendo pessoalmente gratificante ver o que o ataque está fazendo pelo Carr, quem ele teve como novato em Oakland em 2014 antes da reunião no ano passado.

“Isso diz respeito sobre nossa habilidade de correr com a bola,” Allen disse. “Se você quiser carregar a trincheira para prevenir a gente de correr, então nós temos velocidade por fora que pode correr sobre você. Se você quiser colocar dois safeties recuados na jogada, estamos confortáveis em dizer, nós vamos correr com a bola. Nós vamos fazer o que for preciso pra sair com a vitória. Não é sobre quantas jardas a gente vai conquistar. Não é sobre quantos pontos vamos marcar. Não é sobre quantas jardas corremos, jardas lançamos, ou quaisquer dessas estatísticas.”

“É sobre vencer, e que nós joguemos um bom, e completo jogo”

De acordo com ele, no jogo de abertura, com o Panthers pronto para parar Olave, Carr distribuiu seus 19 passes para 8 diferentes recebedores. Essa semana, com Dallas sendo mais balanceado, isso mudou, e o quarterback dependeu muito mais de Olave (quatro recepções, 81 jardas) e Shaheed (quatro recepções, 96 jardas).

A chave é ter respostas. O que, por enquanto, Kubiak e seu corpo técnico têm para seu quarterback.

Tiveram algumas (respostas) muito boas no domingo, também, que talvez ficaram mais discretas por conta da grande vitória.

A primeira pergunta para Allen, no domingo à noite, foi bem simples.

Você conseguia prever isso?”

“Eu disse a mesma coisa semana passada – eu vi nosso time jogando muito bem, vi nosso time sendo competitivo e tendo a oportunidade de vencer. Eu nunca vi o placar sendo aquele placar,” ele disse. “Eu sei que nós temos um bom time. Eu sei que a gente joga um futebol bem completo. Nosso sentimento indo para este jogo era que não podemos entrar deixando claro que somos um time que passa muito a bola e deixar que eles fiquem preparados pra apressar esses passes.”

“Para fazer isso. a gente não pode conceder touchdowns na defesa para que a gente não entre nesse modo de pega-pega. E isso é mérito deles. Eu sabia que a gente tinha que ser capaz de correr com a bola. O herói silencioso dessa coisa toda tem sido a linha ofensiva que todo mundo parecia ter muitos pontos de interrogação. Penso que nós estamos jogando extremamente bem.”

Entrando nessa temporada, esse grupo em específico, a pedra fundamental de grandes ataques do Saints em muitos anos, era uma interrogação.

Eles sabiam quem era o center titular com o Erik McCoy. Eles sabiam que tinham alguém muito sólido como guard na escolha de primeira rodada com Cesar Ruiz. Eles não sabiam muito sobre todo o resto, e aí então, voltando para a primavera (outono para nós), a ideia de ter que enfrentar Micah Parsons e o Cowboys seria um pesadelo.

É aí onde entra a parte do desenvolvimento de talentos na equação. O Saints poderia se sentir satisfeito onde ele se encontrava com suas posições chave, e com o quarterback. Os novos treinadores teriam o desafio – especificamente Benton e Dennison – de arrumar a linha ofensiva e, em particular, sua capacidade de tacklear. Então eles draftaram Taliese Fuaga na primeira rodada para jogar de tackle pelo lado esquerdo, mesmo que ele tenha sido um pelo lado direito em Oregon State, e trabalhou para conseguir a confiança de Trevor Penning de volta, conforme ele passou de tackle pela esquerda para a direita.

No domingo, o Cowboys só registrou um sack, feito por Chauncey Golston, e esse sack, pelas estatísticas, foi o único contato que Dallas teve com o quarterback na tarde toda. Claro, o Saints só ter 17 chamadas de passe faz diferença nisso. Mas que também se dê os devidos méritos para a linha ofensiva jogar como está jogando. E Fuaga, na parte que interessa, fez um belo trabalho contra Parsons quando foi requisitado, o que é muito impressionante para um cara fazendo seu segundo jogo de NFL.

“Eu vejo um cara que não é afobado, não se deixa incomodar muito,” diz Allen. “Ele é bem maduro para um novato. Ele é um jovem que, caramba, nem conseguiu treinar muito essa semana. Ele se preparou. Ele sabia o plano de jogo. Acho que no geral, ele executou muito bem. Acho que Trevor Penning, para todos que o queriam fora, fez um trabalho bem sólido no lado direito. É uma boa linha defensiva que a gente enfrentou.”

E controlar isso possibilitou tudo no ataque, onde, várias e várias vezes, parecia que o Saints poderia fazer o que quisesse.

A primeira campanha marchou 70 jardas em 8 jogadas, com um passe longo de 39 jardas para Chris Olave pra começar os trabalhos. Aí aconteceu a bomba de 70 jardas para Shaheed e, depois disso, um screen de 57 jardas para Kamara. Por outro lado, o quarto touchdown, uma corrida de 12 jardas de Kamara, finalizou uma campanha de 11 jogadas, 70 jardas, e o quinto saiu de um turnover.

E esse turnover, uma interceptação de Paulson Adebo, foi um bom sinal para uma orgulhosa defesa. Allen era o treinador da secundária no Super Bowl 2009 do Saints, então ele já viu isso antes – onde um ataque avassalador pode energizar uma defesa. O que, na realidade, é a peça que faltava no quebra-cabeças.

“Nos últimos anos, esse time esteve esperando por essa esperança que diz, “Ei, o ataque vai dar um jeito,” Allen disse. “É energizante para todos que nós estamos sendo capazes de executar isso em um nível muito alto. Aqui está a parte importante – nos últimos dois jogos, nós ganhamos no tempo de posse. Quando você é capaz de vencer no tempo de posse e manter sua defesa fora de campo? E não simplesmente vencer no tempo de posse, mas ser capaz de marcar pontos com isso?”

“Agora, os times estão correndo atrás da gente. Todos estão energizados com o que a gente pode fazer no ataque. Mesmo estando só na segunda semana da temporada regular.”

E o que vem pela frente – um jogo em casa contra o Philadelphia Eagles no domingo, um jogo de divisão em Atlanta, uma viagem ao Arrowhead para encarar o Kansas City Chiefs e então um jogo em casa contra os atuais campeões da NFC South, Tampa Bay Buccaneers.

Dallas foi um desafio, e as coisas não vão ficar mais fáceis.

Nesse caso, em um mês, o Saints deve ter uma boa ideia de que ele é.

“É a Liga Nacional de Futebol (NFL),” diz Allen. “Se você quer ser alguma coisa, você tem que ganhar jogos desse tipo. Nós estamos muito animados com essa oportunidade. Nós estamos esperando por isso. Estamos animados de receber Philly no nosso estádio – vai ser uma grande atmosfera, um ótimo time, uma outra competição difícil, um teste difícil para nós. Vamos ver como vamos sair desse jogo.”

Por agora, podemos falar que o Saints parece, quer dizer, como o Saints novamente.

Está disposto de uma forma diferente, claro. Mas o risco que Allen tomou de se distanciar de um sistema ofensivo que sempre terá um lugar especial em Nova Orleans parece estar valendo a pena. E para os mais leigos, tem sim a aparência do que os melhores times de Payton fazia – um time que pode ganhar de você de qualquer maneira e fazer o oponente se sentir como tivesse que enfrentar um tsunami com uma prancha de surfe.

“A melhor parte é que o time está jogando do jeito que nós precisamos jogar para vencer a partida,” disse Allen. “Essa tem que ser nossa marca registrada. Nossa versão futebolística tem que ser de um time duro, uma física versão do time. Correr com a bola. Parar o jogo corrido. Fazer nossos play-actions. Eles estão acreditando no tipo de equipe que somos. Quanto mais sucesso você tem fazendo isso, quando você prega que essa é mensagem, essa é versão de equipe que seremos. É isso que nós iremos fazer.”

“Aí você sai e faz o que tem que fazer e vê os resultados fazendo isso, e as pessoas acreditam ainda mais nisso. Elas ficam mais animadas com isso. Elas começam a perceber que isso é quem nós somos. É assim que iremos ganhar. Nós podemos ter muito sucesso fazendo isso. Nosso time está criando uma identidade.”

E essa identidade de fato está indo muito bem.

Imagem de capa: Carr has benefited most from the Saints changing their offense and installing Kubiak as offensive coordinator. / Kevin Jairaj-Imagn Images

Traduzido de: www.si.com

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