Coluna do Zé: É isso o que vocês queriam?

Coluna do Zé: É isso o que vocês queriam?

Salve, torcedor dos Saints!

A gente sabe, no fundo, que vai ser uma temporada difícil para o New Orleans Saints. Mesmo assim, muitos vão estar aqui do começo ao fim, é fato. Mas eu acho impressionante a capacidade que temos, e não digo isso apenas por mim, de nos iludir com qualquer vislumbre de uma vitória.

Já na abertura da temporada, no Caesars Superdome, uma derrota por 20 a 13 para o Arizona Cardinals. Até aí, resultado esperado, dentro do cenário imaginado para a temporada.

Mas teve alguns momentos ali, durante o jogo, que eu achei que ia ser tudo diferente, que meu pessimismo era uma viagem errada da minha cabeça, que tudo ia dar certo.

Não deu, lógico.

Mas, parando para analisar, nem tudo está perdido. Pelo menos, por enquanto.

O defensive end Cameron Jordan e sua comemoração clássica depois do sack na primeira campanha ofensiva do Arizona Cardinals (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)

Nostalgia

Eu não sei vocês, mas ver Cam Jordan conseguindo um sack em Kyler Murray, no primeiro drive ofensivo dos Cardinals, foi uma alegria, aquela sensação boa, quentinha, de ver que um ídolo, apesar do castigo inevitável do tempo, ainda tem diesel pra queimar no seu motor de 130 kg.  

Depois de duas temporadas apagadas, limitadas a apenas seis sacks (quatro na última), é bom ver o recordista da franquia já começando bem a temporada. E ele foi bem, apesar de passar a impressão de sempre conseguir ultrapassar a linha ofensiva rival, mas quase nunca chegar no quarterback.

Foi assim, inclusive no terceiro quarto: ele tomou um drible de corpo da formiguinha atômica, que eu teria fingido lesão e ia pedir pra sair do jogo. Mas ele é Cameron Jordan, o cara que honra a camisa número 94 dos Saints, 123 sacks e contando na carreira, e na jogada seguinte conseguiu, junto com Carl Granderson, derrubar Murray. Na partida toda, foram 5 sacks da defesa, com Granderson, Alontae Taylor e Pete Werner cada um colaborando com o seu.

O safety Justin Reid (21) e o defensive back Demario Davis (56) em ação contra o James Conner (6) e o ataque do Arizona Cardinals (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)

A defesa atuou bem, limitou o ataque de Arizona a 20 pontos, apenas um field goal na segunda etapa. Fora uma ou outra jogada explosiva dos Cardinals, o que é normal, diga-se de passagem, a defesa dos Saints fez bem o seu trabalho.

Outro destaque foi outro veterenaço, aço, aço. Demario Davis sempre aparecia com um tackle salvador em momentos importantes. Impressionante a vitalidade, a garra e a disposição que esses caras, no alto de seus 36 anos, ainda demonstram. Quem fez a lista dos Top-100 jogadores da NFL e não colocou esses caras tem é que pegar essa lista e enf…eitar um banheiro público com ela.

Só poderia ser com ele

O Superdome foi aberto em 1975, passou uns anos fechados depois do desastre da passagem do furacão Katrina (que em 2025 completou 20 anos). E mais um capítulo da história dos Saints aconteceu neste último domingo.

No começo do segundo quarto, quando o placar anotava Saints 0 – 3 Cardinals, Spencer Rattler entregou a bola para Alvin Kamara, que foi quebrando tackles, abrindo para a direita, quebrou mais uns tackles e entrou quase na ponta dos pés na endzone, numa corrida de 18 jardas, para anotar o touchdown de número 1.000 da história dos Saints no Superdome.

Alvin Kamara (41) carrega a bola para anotar o único touchdown do New Orleans Saints durante a partida contra o Arizona Cardinals, anotando o touchdown nº 1.000 dos Saints no Superdome (Kevin Sabitus / Getty Images)

Kamara mostrou que ainda é um dos melhores running backs em atividade na NFL, top 5 pra mim, e mais uma vez, quem fez a lista dos Top-100 players da temporada 2025 precisa pegar essa lista e… ah, o desrespeito nunca acaba… Kamara carregou a bola 11 vezes para 45 jardas, recebeu dois passes para 12 jardas e anotou um touchdown. Nada mal.

Mas eu não suporto quando o tempo todo ficam chamando jogadas para o Kamara correr pelo meio da defesa. Para mim, parece falta de criatividade com um dos caras mais difíceis de serem derrubados na liga. Para isso, deveriam usar o Kendre Miller.

E Miller fez isso muito bem. Enquanto os Saints estavam na liderança e o jogo corrido estava fluindo, Miller teve cinco carregadas para 24 jardas, mas mostrou explosão e equilíbrio, e deve ser mais utilizado por Kellen Moore, agora que está no seu terceiro ano na liga.

O wide receiver Chris Olave teve boa partida, mesmo sem anotar um touchdown; só não precisa assustar a torcida já no primeiro jogo da temporada (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)

O ataque não foi bem, nem foi tão mal quanto os números podem fazer acreditar. O quarterback Spencer Rattler teve uma partida razoável, indo 27 de 46 para 214 jardas e não sofreu interceptação. O tight end Juwan Johnson e o recebedor Chris Olave foram os principais alvos, com Johnson pegando oito passes e Olave sete.

Aliás, Olave deu um susto geral no segundo quarto, quando tomou um trombada e todo o seu histórico de concussões nos veio à memória instantaneamente. A criança que chuta, Blake Grupe, acrescentou um field goal de 36 jardas no segundo quarto e um de 28 jardas no quarto período, mas perdeu um de 37 jardas no terceiro quarto que comprometeu o andamento da partida. Enquanto tem kicker no automático acima de 50 jardas, Grupe perde um (vários) de menos de 40 jardas num estádio coberto. É isso.

Mérito (e sorte) de Arizona

Apesar do bom jogo dos Saints, o time de Arizona tem mais ritmo, bons jogadores e sabia o que fazer com a boa. Mesmo com a boa partida da defesa dos Saints, os Cardinals tiveram duas jogadas explosivas: o running back Trey Benson teve uma corrida de 52 jardas e o recebedor Marvin Harrison Jr. fez uma jogada de passe de 45 jardas, ambas ajudando a definir as pontuações.

Kyler Murray lançou para dois touchdowns, um com Harrison Jr. e outro com o running back James Conner. E jogou apesar da diarreia que estava tendo no dia, como afirmou em entrevista após o jogo. Os Saints conseguiram perder para um cara com disenteria. Não é mole não. Ou era. Sei lá.

O cornerback Kool-Aid McKinstry (4) precisa melhorar seu trabalho de marcação em seu segundo ano na liga, e alguém precisa conversar com ele para que ele não perca a cabeça por causa de um jogo (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)

E nos terceiro e quarto quartos, com a defesa funcionando bem, eu esperava que o ataque desse um passo à frente, e fosse capaz de vencer o jogo. Por alguns momentos eu achei que ia dar.

Num passe, numa terceira descida, na endzone para Rasheed Shaheed que não foi recebido por uma falta não marcada de interferência (ah, essas no call). Grupe errou o field goal na sequência.

A pior foi a recepção/não recepção de Juwan Johnson, nos minutos finais do jogo, dentro da endzone, que daria a chance de empatar o jogo.  Eu cheguei a gritar touchdown, mas ver a bola rolando no gramado foi triste. Excelente trabalho do safety Jalen Thompson. Melhor assim. Grupe provavelmente perderia o extra point, e seria muito pior.

Como é que isso não foi um touchdown, Juwan Johnson (83)??? (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)

Mas o principal problema dos Saints na partida foi a grande quantidade de faltas. Foram 16 penalidades no total, com 13 delas sendo aceitas para perda total de 89 jardas. Onze dessas penalidades foram marcadas no ataque, sendo 8 problemas pré-snap (illegal shift, illegal motion, illegal formation, false start, etc).

O ataque dos Saints acelerou durante todo o jogo para dar o ritmo a Spencer Rattler, mas isso foi claramente um problema para a linha ofensiva. Se continuar desse jeito, e Rattler disse que a equipe está procurando utilizar esse ritmo pelo resto da temporada, pode ser motivo de muita dor e sofrimento para os torcedores. Se preparem.

Kellen Moore é um head coach em seu primeiro ano, e abordar estas faltas provavelmente será a primeira grande missão, na prática. Embora possamos relevar a falta de disciplina por ser apenas a semana 1, é importante ver quais ajustes serão feitos na próxima semana. Quem for de reza, que reze.

Outra vez em casa

Na semana 2 da temporada vamos enfrentar o San Francisco 49ers, mais uma vez no Caesars Superdome. O jogo será no domingo, dia 14, às 14 horas de Brasília. A transmissão será no NFL Gamepass no DAZN.

O quarterback Spencer Rattler precisa trabalhar melhor com o center Erik McCoy e o restante da linha ofensiva para evitar o número excessivo de faltas (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)

O quarterback de San Francisco, Brock Purdy está lesionado e pode não jogar, assim como o TE George Kittle, que está fora por algumas semanas. Mas os Saints também já tem sua cota de lesões, incluindo o right tackle Taliese Fuaga e o safety Julian Blackmon.

Enquanto isso, convido todos a curtir a temporada. Acredito que é melhor irmos sem expectativa para os jogos, e torcer para que haja entretenimento.

Se vamos ganhar, ou não, deixem que as circunstâncias do jogo nos digam. Eu quero me divertir. E como passar raiva com os Saints faz parte de ser torcedor dos Saints, então só aceito, e o que vier é lucro.

Bora se iludir por mais um jogo. Ou não.

Bora, Saints!

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Foto de capa: Cam Jordan (94) e Carl Granderson (96) comemorando o sack que conseguiram sobre Kyler Murray na semana 1 da temporada 2025-26 (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)

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