Grandeza
Grandeza
Hoje, dia 17 de outubro de 2024, ficará marcado como o dia escolhido para a indução de Drew Brees ao Hall da Fama do New Orleans Saints, numa cerimônia no Caesars Superdome, que tantas vezes viu façanhas deste que, com certeza, é um dos maiores de todos os tempos. Se não o maior. Exagero? Não pra mim.
E daí que hoje é dia de Thursday Night Football contra o Denver Broncos, de Sean Payton, voltando ao Superdome? Justo ele, que foi o head coach responsável pela chegada de Brees para a temporada 2006, vindo do então San Diego Chargers, depois de uma temporada com uma lesão no ombro e muitas incertezas no futuro.
Drew Christopher Brees nasceu em Dallas, no Texas, em 15 de janeiro de 1979. No High School, Brees já dava pequenas amostras de seu enorme talento. Jogando por Westlake High School, em Austin, no Texas, ele venceu 28 de 29 jogos disputados. No College, foi a vez de defender a Purdue University e acumular recordes históricos.
Drew Brees foi selecionado pelos Chargers na segunda rodada do Draft de 2001, na 32ª escolha geral. Isso quer dizer que todos os times tiveram a chance de ter Drew Brees como seu quarterback. Acredito que muitos se arrependem até hoje.
A sua ausência da primeira rodada estava fortemente ligada a muita desconfiança a respeito de sua altura e sua capacidade física. Com apenas 1,83m, ele era considerado baixo para ser um quarterback elite na NFL. No início da carreira, Brees teve dificuldade para se firmar e mostrar seu valor como o grande jogador.
Mas tudo isso mudou quando ele chegou ao New Orleans Saints, em 2006. Uma cidade devastada pelo furacão Katrina, uma cidade em reconstrução, um desastre que seria o ponto de virada para a cidade, para o time e para Drew Brees.
Mais que um quarterback
Drew Brees. O nome ecoa nos dentro do Superdome, e na história do New Orleans Saints, como sinônimo de grandeza. Um líder silencioso, um maestro no campo, que conduziu a franquia à glória, quebrando recordes e conquistando corações.
Com precisão cirúrgica, lançava a bola, desenhando trajetórias impossíveis, conectando-se com seus companheiros, transformando cada jogada em poesia. Sua inteligência, sua determinação, sua paixão pelo jogo, inspiraram uma geração de jogadores e fãs.
Em 2010, ergueu o troféu Vince Lombardi, coroando uma bela jornada, épica, que culminou em um Super Bowl memorável. Mas muito além do título, Brees deixou um legado de superação, de resiliência, de união.
Ele encarnou a alma de New Orleans, ajudando na reconstrução da cidade e reconstruindo o time após o furacão Katrina. Ele abraçou a comunidade, que o abraçou de volta.
E daí que ele não ganhou um prêmio de MVP da temporada? Enquanto Brees liderava a NFL em passes e chegou a cinco Pro Bowls, ele ganhou o prêmio Walter Payton Man of the Year em 2007 por contribuições para a comunidade.
Drew Brees é o maior de todos os tempos. Ponto. Se em alguns números e recordes ele foi superado por um cara que precisou de três temporadas a mais pra fazer isso, o que importa é que enquanto ele jogou, ninguém foi melhor que ele.
Títulos são méritos coletivos. Infelizmente, o torcedor do New Orleans Saints sabe que por lá as coisas são muito, mas muito difíceis. Mas isso, pra mim, não importa quase nada.
Existe o antes. Existe o durante. E existe o depois. A história do Saints, antes e depois de Brees, é a história de um homem que mudou tudo. Nada será igual em New Orleans.
O Drew Brees de cada um
Quando a Jéssica, a administradora do nosso trabalho aqui, encomendou um texto, eu fiquei muito na dúvida se seria capaz. Mas sou muito fã dele, não ia deixar de escrever.
A própria Jéssica escreveu um texto muito legal quando da aposentadoria dele, em janeiro de 2021, lá no nosso antigo site, que você pode conferir clicando aqui.
Mas pedi ajuda do grupo de pessoas que compõe nossa equipe do Mundo WhoDat. A seguir algumas colaborações.
De Caio Rossini:
Drew Brees tinha passes mágicos, o que também era irritante, porque ele forçava algumas bolas onde não cabia e viravam turnovers. Mas ao mesmo tempo, essa ousadia e super confiança em sua qualidade nos deu várias vitórias. Quando fala de Brees, eu lembro muito do passe pro Lance Moore no 2pt conversion do Super Bowl. Uma leitura rápida, uma bola simples e precisa e um giro milimétrico do Moore pra anotar o TD. Mas por quê não falar do giro e touchdown corrido maravilhoso contra o Falcons? Mesmo com a idade avançada, Brees nunca deixou de se entregar ao máximo e de nos colocar em posição de vencer títulos. Nunca teve um MVP? Azar da NFL. Porque Drew Brees foi maior que qualquer prêmio. Ele resgatou um time, uma comunidade, encheu de esperança uma cidade destruída, chamou pra si a responsabilidade de trazer alegria pra milhares de pessoas que contavam estragos e enterravam parentes após o furacão mais mortal da história dos EUA. Isso ai não há MVP que pague ou consiga traduzir.
De Gustavo Diniz:
Escolher algum momento marcante de Drew Brees é fácil, são inúmeros, o leque é grande e a única dificuldade é ficar em apenas um. Destaco a noite em que se tornou o QB com mais passes para touchdown na história da NFL. O placar pré-touchdown, de 20 a 6, contra o até então, Washington Redskins, era um detalhe. Por um momento o jogo parou, todos foram celebrar a oportunidade de vivenciar a história ao lado de um dos maiores a construí-la.
De Bernardo:
Eu não cheguei a pegar a melhor fase do Brees, mas lembro de um dos primeiros jogos do Saints que vi contra o Texans na primeira semana da temporada de 2019, que ele com 30 segundos no relógio e um timeout consegue posicionar o FG da vitória. Vi só duas temporadas dele, mas só isso já foi suficiente pra saber o quão bom ele foi.
Uma longa história, cheia de memórias incríveis. O touchdown terrestre após um rodopio para se livrar da marcação contra os Falcons. O touchdown 400, num passe para C.J. Spiller correr livre na lateral do campo para vencer os Cowboys na prorrogação. O jogo contra os Giants de Eli Manning que terminou com vitória por 52 a 49, com sete passes para touchdown. As campanhas vitoriosas nos minutos finais.
As parcerias de sucesso. Com Marques Colston. Com Jimmy Graham. Com Michael Thomas. Tantos recebedores medíocres que pareciam bons somente por receberem passes perfeitos de Drew Brees.
Os comentaristas da ESPN sempre lembrando a história que “os recebedores diziam que não viam Brees atrás da linha ofensiva, só viam a bola saindo e chegando pra eles”…
O recorde de mais partidas consecutivas com passes para touchdown, em 2012. O recorde de mais jardas em uma mesma temporada, 2011. O recorde de mais jardas na carreira e o touchdown número 500, em 2018.
A interceptação contra os Falcons em uma das “bocas malditas” mais clássicas da ESPN Brasil. A No Call contra os Rams, na final de conferência.
Eu mesmo comecei minha Coluna do Zé por aqui muito depois da aposentadoria de Brees, em janeiro de 2021 (mas sou torcedor dos Saints por causa dele, basicamente, desde logo ali, em 2013). Eu me lembro do sentimento de tristeza por algo inevitável, da sensação de vazio, depois de mais uma derrota dolorida nos playoffs. Mas vira e mexe eu falo do homem nos meus textos, é inevitável.
Drew Brees é grande demais. A imortalidade é pouco.
Obrigado, Drew Brees
Obrigado, Drew Brees, pela jornada incrível.
Obrigado, Drew Brees, pelos fantásticos discursos motivacionais no pré jogo, pelos gritos de guerra, por toda a raça e por toda entrega.
Obrigado, Drew Brees, por estar lá, mesmo com oito costelas fissuradas, um ombro lesionado.
Obrigado, Drew Brees, por nos presentear com a magia do esporte, por nos mostrar que a grandeza não se limita ao campo, mas transborda para a vida.
Venha me ver falando bobagem e sofrendo com o New Orleans Saints em outros lugares, no Bluesky, no Threads e no Instagram.
Texto de José Eduardo Zanon
Foto de capa: Drew Brees no Superdome, na temporada de 2011 (Chris Graythen/Getty Images)
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