Jeff Ireland transformou o Saints no rei do draft
Jeff Ireland transformou o Saints no rei do draft
O New Orleans Saints possui o roster mais talentoso de toda a NFL. Seu elenco reúne jogadores de elite nas posições mais críticas do jogo: quarterback, left e right tackle, edge rusher, e shutdown corner. E o núcleo do roster consiste de jogadores no auge de suas carreiras.
Graças a essa chuva de talentos, o Saints conquistou três títulos consecutivos da NFC South e venceu mais jogos do que qualquer outro time na liga nas últimas três temporadas.
Vários fatores levaram a esta ressurgência na segunda metade da era Sean Payton-Drew Brees, entre elas, uma coordenação defensiva aprimorada e um Payton novamente comprometido e focado. Os mais supersticiosos diriam que até a escolha dos locais dos training camps contribuíram.
Mas é difícil dizer que algo contribuiu mais para o sucesso dos Saints do que a contratação de Jeff Ireland.
Desde que o Saints colocou o centrado e cerebral Ireland no comando dos seus drafts há cinco anos, suas sábias escolhas fortificaram o elenco e estabeleceram uma base para um sucesso autossustentável. Erros na pós-temporada à parte, o Saints é hoje uma potência e será novamente considerado candidato ao Super Bowl quando – e se – a temporada de 2020 começar na próxima primavera (no hemisfério sul). E grande parte do crédito vai para Ireland, um cara tão discreto que muitos dos torcedores do Saints não o reconheceriam na fila do supermercado.
“Ele não é apenas um amigo próximo, mas um avaliador muito, muito talentoso”, disse Payton. “E eu acho que isso é graças à sua experiência como olheiro e à experiência adquirida por trabalhar com pessoas muito competentes. Suas heranças são incríveis.”
Desde que Ireland desembarcou em 2015, o Saints draftou tão bem ou melhor que qualquer outro time na NFL. Doze dos 22 jogadores titulares do jogo do wild-card contra o Minnesota Vikings na última temporada foram adquiridos por ele. O roster possui sete dos melhores jogadores de elite da liga, de acordo com o ranking do Pro Football Focus. Quatro desses jogadores – Alvin Kamara, Marshon Lattimore, Ryan Ramczyk e Michael Thomas – foram draftados na era Ireland. O campeão do Super Bowl, o Kansas City Chiefs, é o único time que draftou mais do que dois jogadores de elite nesse período, num total de três jogadores.
A classe do Saints de 2017, com Lattimore, Ramczyk, Kamara, Marcus Williams, Alex Anzalone e Trey Hendrickson é, discutivelmente, a melhor classe do draft de um time da NFL na última década e disputa com a famosa classe de 2006 em qualidade e profundidade. Kamara e Lattimore foram os calouros ofensivos e defensivos do ano, respectivamente, e foram escolhas de Pro-Bowl várias vezes. Ramczyk foi, por duas vezes, escolha de All-Pro. E Williams tem sido titular por três temporadas consecutivas e líder de interceptações nesse período, com dez. Anzalone e Hendrickson, por sua vez, têm sido jogadores consistentes na rotação.
Em 2016, o Saints selecionou Michael Thomas na segunda rodada e adicionou Sheldon Rankins e David Onyemata à linha defensiva. Os dois últimos drafts produziram os titulares Marcus Davenport, DE, e o center Erik McCoy, além do DB C.J. Gardner-Johnson.
Além do mais, o Saints atingiu este sucesso tendo apenas 33 escolhas de draft, a quinta menor marca da liga nos últimos cinco anos. Em geral, essas escolhas foram em rodadas do meio pra frente. O Saints é um dos sete times que não tiveram uma escolha acima da décima posição geral desde 2015.
O sucesso recente do draft é uma mudança muito bem-vinda para os torcedores do Saints, que viveram alguns fiascos no draft durante a era John Mecom e a passagem de Mike Ditka.
“Jeff cresceu como um olheiro, e foi assim que ele ganhou experiência”, disse Payton. “Ele ama analisar os detalhes dos filmes. Ele ama cair na estrada, participar dos exercícios de prospectos do draft, ir aos campos de treinamento. Ele reuniu um bom time de olheiros pra trabalhar com ele. Acho que temos feito um excelente trabalho nesse sentido. Se você estivesse presente nas reuniões com ele, você veria a atenção aos detalhes quando ele fala de algum jogador.”
Payton foi cirúrgico ao trazer Ireland para New Orleans. Os dois formaram uma amizade quando trabalharam com Bill Parcells em Dallas. Quando Ryan Pace deixou o Saints para ser general manager em Chicago, o Saints agiu rapidamente para assegurar os serviços de Ireland, demitindo abruptamente Rick Reiprish no Senior Bowl em janeiro de 2015 e nomeando Ireland como diretor de prospecção do college.
O saldo de escolhas de primeira rodada era positivo com Reiprish, mas o time lutava para encontrar jogadores produtivos nas rodadas do meio e finais. Isso não acontece com Ireland. Durante sua gestão, o Saints encontrou jóias como Gardner-Johnson, Onyemata, Tyeler Davison, Will Clapp e Kaden Elliss no terceiro dia de draft. Eles também adicionaram ao roster nove free agents não-draftados, incluindo o retornador All-Pro Deonte Harris.
“Jeff conhece todo mundo no futebol americano porque ele cresceu dentro do jogo”, disse Mike Ornstein, outro discípulo de Parcells que trabalhou com ele no Saints em várias funções durante a gestão Payton. “Ele pode se reunir com Nick Saban [treinador de Alabama] quando quiser. Ele tem este tipo de respeito dos treinadores no país.”
Ireland era kicker na Cooper High School em Abilene, Texas, e também na Universidade de Baylor antes de aceitar o cargo de técnico de especialistas na Universidade de North Texas. Ele rapidamente fez a transição para a área de prospecção. Seu avô, Jim Parmer, foi um guru de longa data do Chicago Bears, e seu padrasto, E.J. Holub, foi um linebacker/center Hall da Fama. Ireland acabou indo trabalhar com Parcells em Dallas, onde foi promovido por este a vice-presidente da prospecção de jogadores profissionais e do college no Cowboys, para depois contratá-lo como general manager no Dolphins em 2008.
“Assim que eu conheci Jeff de verdade em Dallas, eu ganhei muito respeito por ele”, Parcells disse semana passada durante uma entrevista por telefone de sua casa em Fort Lauderdale, Flórida. “Ele é inteligente e muito focado. A organização precisa de uma visão desenvolvida que tenha algum tipo de simetria entre treinadores e pessoal. Ele e Sean [Payton] estão juntos por tempo suficiente para terem uma boa ideia do tipo de jogador que eles preferem antes mesmo de buscar por um. Isso é importante.”
Enquanto Payton e o general manager Mickey Loomis continuam como líderes inquestionáveis no time, a influência florescente de Ireland na instituição elevou a confiança nesta operação composta de três homens formidáveis. Sua conduta altruísta e seus impressionantes resultados no draft lhe garantiram respeito na organização. Ele também foi promovido a assistente de general manager, o que foi uma boa iniciativa ao recompensar Ireland e afastar potenciais ofertas de fora. Durante sua trajetória, ele tem contratado uma porção de novos olheiros no departamento pessoal e encheu o front office com colegas de sua passagem por Miami, entre eles o diretor de operações Derek Stamnos, o guru analítico Ryan Herman e o desenvolvedor de sistemas Joshua Sheetz.
Mesmo que Ireland tenha interesse em liderar seu próprio time de novo, apenas uma situação muito específica o afastaria do Saints. Seu papel aqui é feito sob medida para acentuar suas habilidades como caçador de talentos. Como veterano e trabalhador incansável no apoio, ele está confortável com Loomis e Payton bem estabelecidos como homens de frente, o que o deixa livre para operar nos bastidores.
“Tem sido um ajuste perfeito entre Jeff, Mickey e Sean”, disse Ornstein. “Ele pode fazer exatamente o que deseja, que é caçar talentos. Ele não precisa se preocupar com mais nada”.
Ireland e Payton estão alinhados quando se trata de pessoal. Suas filosofias foram lapidadas durante os anos que trabalharam juntos com Parcells, que foi o treinador mais envolvido com pessoal na história da NFL. Em geral, eles valorizam jogadores inteligentes, mentalmente fortes e que sejam apaixonados por futebol americano. Eles querem jogadores maduros, proativos e que sejam humildes. Nos últimos anos, eles deram uma ênfase maior em jogadores com bom histórico e valores pessoais.
Se tradicionalmente o Saints têm optado pela estratégia do “melhor jogador disponível” no draft, há uma diferença aqui: é preciso que seja o melhor jogador disponível “para o Saints”. O time tem métricas definidas para cada posição em termos de altura, peso, velocidade, força e habilidades específicas da posição. Exceções são feitas para jogadores com qualidades especiais, mas esses jogadores geralmente são rebaixados nos quadros do Saints.
Durante uma entrevista ao site do Saints em fevereiro, Ireland disse que “Sean e Mickey são ótimos em tomada de decisão”. “Meu trabalho é manter nosso processo de prospecção intacto e garantir que estejamos sempre disciplinados e focados naquilo que acreditamos dentro do processo. Não alteramos muita coisa quanto a isso. E é o que realmente acreditamos. Quanto mais sucesso obtemos no draft, mais acreditamos nele [no processo] e mais, nós trabalhamos duro.”
Ireland tem passado as últimas semanas em reuniões pré-draft com Loomis e Payton no quartel general improvisado nas instalações da Cervejaria Dixie no leste de New Orleans. Durante a quinta-feira do draft, o trio estará conectado online via chamada de conferência. Eles estarão, simultaneamente, em outra chamada com o restante da equipe de operações de futebol: técnicos, olheiros e departamento médico.
O draft representará o ápice de um processo de avaliação de todo um ano para Ireland e sua equipe. É quando se pagam todas aquelas longas horas de estudos de filmagens e trabalho investigativo.
Se Ireland conseguir descobrir outro Thomas ou Kamara esta semana, seus dias de anonimato em NOLA podem ter acabado.
(Top photo of Ireland and Loomis: Gerald Herbert / Associated Press)
Traduzido de: Jeff Duncan
Traduzido por: Marcelo Chaves