Recuperação em Campo: Músculos Isquiotibiais
Recuperação em Campo: Músculos Isquiotibiais
Marshon Lattimore (28), cornerback dos Saints, sofreu uma lesão durante o jogo da semana #1, contra o Carolina Panthers. A informação da franquia é de que a lesão acometeu o tendão dos isquiotibiais. Mas, afinal, o que são os isquiotibiais? Falaremos sobre o que são, suas lesões e como a fisioterapia influencia no processo de recuperação das lesões dos posteriores da coxa.
Os músculos
Os isquiotibiais são um agrupamento muscular localizado na região posterior da coxa, formado pelos músculos semimembranoso, semitendíneo e bíceps femoral. Esses músculos realizam extensão de quadril e flexão do joelho, além de ser importante força motriz para a corrida, tanto no arranque quanto na desaceleração, atividades que são realizadas pelos jogadores de futebol americano.
A lesão
Geralmente, a lesão nos isquiotibiais ocorre devido a uma contração brusca, assim rompendo as fibras ou ocorrendo avulsão (separação) do tendão junto ao osso. Entre os sintomas, estão dor súbita, edema e hematoma na região posterior da coxa, além de fraqueza para realizar flexão do joelho e dificuldade para deambular e/ou correr.
Para melhor entendimento, todo movimento do corpo humano tem musculatura agonista, como a principal responsável pela geração de torque, e a antagonista, que ajudará no controle e estabilização do movimento. A relação entre essas musculaturas é chamada de relação agonista/antagonista, o que será resultado de uma divisão entre força e torque entre eles. A relação I/Q (isquiotibiais e quadríceps) é uma dessas e é fundamental para a saúde muscular do atleta, inclusive para prevenção de lesões no joelho. Quando é realizada a operação e o resultado é superior a 0.60, significa que os isquiotibiais estão fortes demais em relação ao quadríceps, ou que o quadríceps está enfraquecido. Quando os resultados ficam abaixo de 0.50, significa que o quadríceps está forte demais em relação aos posteriores, ou os posteriores estão muito fracos. Esse desarranjo entre isquiotibiais e quadríceps são fatores contribuintes para lesão musculares e até ligamentar (casos de rupturas parciais e completas do ligamento cruzado anterior – LCA).
As lesões musculares são divididas em três graus. O grau I é quando ocorre o estiramento de uma pequena quantidade de fibras musculares. A dor é localizada em um ponto específico, surgindo durante a contração muscular contra a resistência e pode ser ausente durante o repouso. O grau I apresenta pequenos danos estruturais e a limitação funcional é leve. Geralmente, apresenta bom prognóstico e a restauração das fibras é rápida. Na lesão muscular de grau II, o número de fibras acometidas e a gravidade da lesão são maiores, em um nível intermediário, pois são encontrados os mesmos achados da lesão de primeiro grau, porém com maior intensidade. Junto a isso, temos: dor, moderada hemorragia, processo inflamatório mais demorado e uma considerável diminuição da funcionalidade, além de ter um processo de recuperação mais demorado. A lesão muscular de grau III, a mais grave, provoca uma ruptura completa do músculo ou, pelo menos, mais de 50% de suas fibras, resultando em uma importante perda da função, e também é possível identificar na análise palpatória. A dor pode variar de moderada a muito intensa, provocada pela contração muscular. O edema e a hemorragia são grandes e, dependendo da localização do músculo lesionado, o edema, a equimose e o hematoma serão visíveis.
Tratamento
O tratamento na fase aguda da lesão muscular é o método PRICE – Protect, Rest, Ice, Compress, Elevate (proteção, repouso, gelo, compressão e elevação). O “P” vista proteger a região machucada de qualquer contato externo ou movimento excessivo. O “R” tem como objetivo “descansar” a região afetada de qualquer esforço que possa atrapalhar a recuperação. O “I” é a utilização da crioterapia, ou seja, gelo, logo após a lesão, o que minimiza o aumento do edema ou inchaço, favorecendo a recuperação mais rápida. O “C” diz sobre a compressão da área isolada, formando uma pressão para que o edema não se expanda. Essa compressão pode ser feita com a própria bolsa de gelo ou por meio de bandagens e faixas. Finalizando, nessa fase do método PRICE temos o “E”, que diz sobre a elevação da área afetada sobre o tronco.
A cirurgia, para tratamento de lesão muscular, será indicada quando houver uma lesão por avulsão do tendão, que é quando o tendão se desprende do osso. Nesses casos, é necessário o procedimento cirúrgico para a reparação da estrutura lesada, reposicionando em seu local de origem com fixadores especializados para a devida ancoragem.
Falando do pós-operatório, a fase do fortalecimento muscular deve ser iniciada logo que o paciente apresentar melhora da dor com leve resistência. Os exercícios devem ser de baixa intensidade no início do processo, aumentando conforme a tolerância do paciente/atleta. Os exercícios excêntricos são fundamentais na recuperação da lesão e no retorno gradual aos movimentos específicos do esporte, devido a algumas vantagens biomecânicas, como o significativo ganho de força através de um menor recrutamento das unidades motoras quando comparados aos exercícios concêntricos.
Os critérios para o retorno ao esporte são: a flexibilidade semelhante ao membro saudável (contralateral), amplitude de movimento normal (dentro do parâmetro), ausência de dor e critérios de força muscular semelhante aos valores prévios à lesão ou membro contralateral.
E após duas semanas de descanso, o cornerback dos Saints está recuperado e poderá jogar na semana 3 contra o Eagles, para nos ajudar nessa temporada que começou de forma magnífica e inquestionável.
Imagem de capa: summitortho.com
Artigo escrito por: Gustavo Diniz