COLUNA DO ZÉ: Uma vitória difícil (de assistir)
COLUNA DO ZÉ: Uma vitória difícil (de assistir)
Por José Eduardo Zanon
Salve, torcedor dos Saints!
Uma vitória é uma vitória, principalmente quando se quer chegar nos playoffs, certo? Então, tudo bem, tudo certo, o objetivo do New Orleans Saints foi alcançado nesse domingo, numa vitória justa sobre o Chicago Bears, por 24 a 17.
Mas nada está tudo bem, muito pouco está certo.
Foi um jogo difícil de assistir. Eu fiquei me perguntando, diversas vezes durante o jogo, o que eu estava fazendo na frente do notebook, vendo essa forma moderna de tortura auto imposta.
Vamos lá, eu não tinha como sair e aproveitar muito o domingo de sol, meio difícil com dois filhos recém-nascidos com menos de dois meses. Pior foi forçar os coitadinhos a assistir o jogo comigo. Não me denunciem ao Conselho Tutelar, por favor.
Mas os Saints exageraram. Toda alegria e esperança (olha aí, sempre ela a nos matar) que eu tinha após uma vitória bem satisfatória sobre o Indianapolis Colts, na semana 8, foram drenadas dolorosa e lentamente numa tarde horrível no Caesars Superdome.
Começo de jogo estranho
A defesa resolveu não aparecer novamente para o primeiro tempo de partida. Os Bears, liderados pelo quarterback reserva Tyson Bagent, avançavam pelo campo com facilidade em todos os drives. O primeiro resultou num touchdown do tight end Cole Kmet. O terceiro também, outro drive tranquilo e touchdown de Kmet. No quarto drive, um field goal desperdiçado pelo kicker brasileiro Cairo Santos (o seu primeiro da temporada).
Bagent se mostrou capaz, com bons passes e principalmente bons scrambles e corridas (70 jardas corridas) pelo meio da defesa dos Saints. Isso pode ser um problema para o titular Justin Fields – eles que se entendam lá em Chicago.
Mas como todo bom quarterback de Chicago, no seu segundo drive, que ia bem até o meio de campo, começou a aparecer toda a doideira que é o cornerback Paulson Adebo. Uma interceptação, sua primeira no jogo, que deu um campo curto suficiente para o ataque conseguir evoluir aos trancos e barrancos para um touchdown do wide receiver Chris Olave empatar o jogo no primeiro quarto.
Taysom Hill é o cara
Ainda no segundo quarto, o único drive dos Saints que começou no campo de defesa e avançou para uma pontuação, num touchdown de recepção da máquina de jogar futebol americano Taysom Hill. Seu décimo na carreira.
Hill é o primeiro jogador, em mais de 59 anos, a ter 10 touchdowns correndo, lançando passes e recebendo. O segundo na história da liga, o outro é a estrela dos anos 50, Frank Gifford. Na carreira, Hill tem 26 TDs corridos, 11 lançados (ele originalmente é quarterback, lembram?) e 10 em recepção de passes. E contando.
A alegria sempre estampada na cara de Taysom Hill, em todas as suas jogadas, mesmo tomando porradas que me matariam, é contagiante. É uma alegria de estar fazendo o que gosta, e ainda estar sendo pago para isso. Quem não gostaria? Ainda mais para um cara que começou tarde e já está com uma certa idade. Hill só estreou na NFL pelos Saints em 2017, aos 27 anos, depois de ser cortado do Green Bay Packers.
Ele foi listado como quarterback no elenco dos Saints durante suas sete temporadas, embora tenha jogado em sete posições diferentes, incluindo running back, wide receiver, tight end, e special teams (na sua estreia foram dois tackles no retornador do Carolina Punthers).
Taysom Hill é um futuro Hall of Fame.
Taysom Hill é demais. Desde que não seja o quarterback titular. Minha memória é ruim, mas nem tanto. Essa experiência não foi muito boa, aí já é demais. Mas vamos voltar ao sofrimento do presente…
A defesa chegou para o jogo
Depois de Hill empatar novamente o jogo e Cairo Santos errar a sua tentativa de field goal, ainda tinha tempo para os Saints tentarem pontuar no fim do primeiro quarto. Era melhor ter ajoelhado e ido para o vestiário. Foi apenas uma amostra do que viria no segundo tempo. Um ataque completamente dependente da defesa.
A defesa que entrou para o segundo tempo como não tinha vindo ainda para o jogo. Alguém por lá descobriu que precisava tentar anular as corridas de Bagent e que precisava marcar melhor o TE adversário. E que precisava mostrar intensidade. E que precisava não perder o jogo, dependendo do ataque.
Porque quando a defesa dos Saints quer, ela é muito boa.
Um detalhe importante sobre o jogo. Não cometemos faltas. Não que eu me lembre. Nem parecia o New Orleans Saints que eu conheço.
Com isso, a defesa dos Saints limitou o ataque dos Bears, na etapa final, a apenas um field goal convertido por Santos. E que fique claro, o ataque dos Bears não é lá muita coisa, e tem se mostrado fraco ao longo desta temporada, não importa o nome do quarterback em campo.
Segundo tempo de altos e baixos
Nada parecia dar certo no ataque, no final das contas. As duas jogadas de pontuação do segundo tempo foram apenas um field goal da criança que sente a pressão (e erra) Blake Grupe no terceiro quarto e um touchdown recebido pelo TE Juwan Johnson em passe de Taysom Hill para garantir os últimos pontos da vitória no quarto quarto. E vou dizer, a jogada desse último TD foi muito legal.
O detalhe que faltou sobre as duas pontuações dos Saints nos últimos quartos: elas só vieram depois de grande atuação da defesa. Mais especificamente um fumble forçado e recuperado por Paulson Adebo e um bom retorno de punt de Rashid Shaheed de 14 jardas.
Os Saints desperdiçavam todos os turnovers possíveis. Adebo teve mais uma interceptação. O safety Marcus Maye conseguiu também uma interceptação. Teve também um fumble de Bagent forçado por Demario Davis e recuperado por Pete Werner, que finalmente selou a vitória de New Orleans. Isso porque Grupe errou mais um field goal, dessa vez de 47 jardas, que teve o potencial de deixar vivo o jogo para os Bears, que estavam atrás por apenas 7 pontos no placar.
Ataque decepcionante
Uma semana depois de registrar os recordes da temporada em pontos, jardas totais e jardas corridas (38, 511 e 161), os Saints somaram 24, 301 e 87 nessas categorias, respectivamente. O que New Orleans fez bem foi manter sua eficiência na red zone (3 de 5 contra os Bears, depois de ir 3 de 4 contra os Colts) e sua “eficiência” em terceiras descidas (7 de 14 contra Chicago, 6 de 12 contra Indianapolis).
Tudo bem, isso garante mais snaps ofensivos e marcar touchdowns na red zone sempre é o segredo para vencer. A linha ofensiva mostrou um bom jogo e não permitiu que o quarterback Derek Carr fosse sacado, mas 214 jardas de passe, contra uma defesa dos Bears que estava permitindo mais de 260 jardas de passe por jogo, não era o que poderia – e provavelmente deveria – ter sido feito contra Chicago.
É legal ver que Chris Olave voltou um pouco aos trilhos, e Carr tem um jogo de passes razoável para quem está livre, mas Michael Thomas não ter recepções e apenas um alvo no jogo todo é algo que provavelmente não deveria acontecer.
O que vem a seguir
Sinceramente, não sei. A escolha das chamadas a serem executadas pelo ataque parece sempre a pior possível. Funciona pela qualidade dos jogadores executando, mas isso não é o bastante.
Lançar bombas o tempo todo para Shaheed nem sempre vai funcionar. Kamara correr pelo meio o tempo todo, mesmo revezando com Jamaal Williams, não vai funcionar na maioria das vezes. E isso parece não ter solução.
O New Orleans Saints agora lidera de forma isolada a NFC South, e tem tudo para chegar aos playoffs. Só depende de si mesmo. E é aí que mora o perigo.
O próximo jogo é contra o Minnesota Vikings, agora sob o comando do quarterback recém trazido de Arizona, Joshua Dobbs, fora de casa. Depois, teremos a semana de bye.
Ao menos, estamos vendo mais sintonia entre Carr e os recebedores, incluindo agora os tight ends. Resta torcer para isso dar certo até o fim da temporada regular.
Bora, Saints!
Foto da capa: Paulson Adebo e uma de suas interceptações fundamentais para a vitória. (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)
Venha me ver falando bobagem e sofrendo com o New Orleans Saints em outros lugares, no antigo Twitter e no Instagram.