COLUNA DO ZÉ: Consistentemente inconsistente
COLUNA DO ZÉ: Consistentemente inconsistente
Por José Eduardo Zanon
Salve, torcedor dos Saints!
Foi Alvin Kamara quem proferiu as palavras que usei no título dessa coluna, na entrevista pós jogo. Kamara disse: “Sinto que há muita conversa, conversa sobre como ‘precisamos’ ser. Precisamos encontrar uma solução real, não apenas ‘Oh, temos que ser melhores’. Queremos melhorar a cada semana. Isso é óbvio. Vamos superar isso. Como vamos melhorar?”
E tem mais: “Não temos uma identidade como equipe. Somos uma equipe que diz que queremos fazer e não fazemos e isso fica evidente. Consistentemente inconsistente… Todo mundo com uma flor-de-lis no corpo e na cabeça. Consistentemente inconsistente. Estou dizendo como uma equipe.”
E não parou por aí. Para ver a entrevista completa, em inglês e sem legendas, basta clicar aqui.
É isso. Eu nem tenho muito a falar. Essa derrota do New Orleans Saints, na semana 12, para o Atlanta Falcons, por 24 a 15, foi esmagadora na minha vontade de falar sobre o jogo, sobre o time, sobre a temporada. Mas vamos lá. Vem comigo até o fim se você tem estômago.
Inimigos do TD
A dupla Derek Carr e Pete Carmichael não consegue. Elas são o Moisés da NFL. Por mais que esteja bem claro, bem desenhado, o que precisa ser feito, eles não conseguem fazer. Não conseguem executar.
O time dá claras demonstrações de ser mal treinado. O talento individual ajuda a atravessar o campo e chegar na red zone, mas na hora que precisa de algo a mais, uma jogada diferente, não sai nada. Quando precisa de uma jogada bem executada, ele não sai também. Isso ficou claro na interceptação no primeiro quarto do jogo.
A campanha inicial do jogo, não conseguiram nem um first down. Na segunda campanha, abriram o placar com um field goal, 3 a 0. Na terceira campanha, um passe previsível que foi interceptado na linha de oito jardas, retornado para touchdown. E daí pra frente, foi só ladeira abaixo.
E não foi falta de chances. Derek Carr teve 24 acertos de passe em 38 tentativas para 304 jardas e a interceptação. Os Saints tiveram 444 jardas ofensivas, mas terminaram com zero touchdown em cinco chegadas na red zone. Zero de cinco.
Ataque vazio
As únicas pontuações do Saints, em todo o jogo, vieram dos pés da criança que chuta Blake Grupe. Foram 5 no total. No sexto, que ainda estava dando uma esperança em vão de uma possível virada no placar, ele errou.
Fica cada vez mais claro que se colocar um pouco de pressão, ele erra. Pode ser apenas pela inexperiência, e isso passa logo, ou pode ser que não, ele já pode estar quebrado, e daí já era. Jogar nos Saints causa transtornos psíquicos.
Não adianta nada Chris Olave ter o seu melhor jogo na temporada. Não adianta nada Kamara ter mais de 100 jardas. Não adianta Taysom Hill ter mais de 50 jardas (e uma recepção belíssima). Não adianta nada. O time vai chegando perto da end zone rival, e o ataque vai definhando.
Hill, inclusive, garoteou e sofreu um fumble na linha de cinco jardas da red zone rival, desperdiçando mais uma grande chance de pontuação no terceiro quarto.
Carr também sofreu um fumble, prontamente recuperado pelo calouro A. T. Perry. Com quem Carr havia tido um chilique, minutos antes, numa falha de comunicação e erro de rota do calouro.
Quem não faz, toma
Além da pick-six do safety Jessie Bates, os Falcons marcaram com Bijan Robinson em uma corrida de 10 jardas e uma recepção de 26 jardas com passe do quarterback Desmond Ridder. O kicker Younghoe Koo adicionou um field goal de 39 jardas para fechar o placar. Os Falcons tiveram 396 jardas de ataque e correram com a bola para 228 jardas.
Quando uma defesa cede toda essa quantidade de jardas terrestres, não dá para dizer que foi uma boa atuação. A defesa pareceu sem respostas contra o jogo terrestre dos Falcons, seja com os running backs ou com o quarterback (olha aí, mais um quarterback móvel acabando com a defesa dos Saints – ainda bem que o Ivan Martins avisou).
Nem o bom trabalho do Texugo do Mel, o safety Tyrann Mathieu, que foi responsável por duas interceptações em passes de Ridder, foi suficiente. Talvez, ele tenha sido o único a se salvar nessa péssima atuação da defesa. Que, só para variar, não conseguiu um sack sequer. Mal conseguiu executar uma pressãozinha no quarterback de Atlanta.
Baixas importantes
Além da derrota vergonhosa, muitas preocupações surgem daqui pra frente. Muitas lesões podem deixar o time ainda mais frágil para os seis jogos que restam na temporada.
Os Saints perderam seus dois principais recebedores por lesões: Chris Olave saiu com uma concussão no terceiro quarto ao tentar pegar um passe no terceiro andar na lateral de campo, Rashid Shaheed por uma lesão na coxa.
Além deles, o tight end Juwan Johnson saiu após levar uma pancada na cabeça; o defensive end Cameron Jordan deixou o jogo no quarto quarto com uma lesão na canela (e ninguém percebeu); o cornerback Alontae Taylor entrou e saiu do time diversas vezes com dores, o running back Jamaal Williams saiu no quarto quarto também com dores e o center Erik McCoy teve que deixar o jogo por um tempo perto do final.
Vamos acompanhar o diário de lesionados (injury report) para ver com quem os Saints vai poder contar para os próximos jogos. Isso porque, na última semana, o recebedor Michael Thomas já havia sido colocado na reserva de lesionados e o cornerback Marshon Lattimore se juntou a ele na noite de sábado.
O que nos resta
Ainda há um confronto contra cada um desses dois times, mas será que é interessante os Saints passarem ara os playoffs com a equipe desse jeito?
O time não tem alma. O time não tem definição do que pretende ser. Parece um catadão, um amontoado de jogadores talentosos sem direção. Sendo guiados por um coordenador ofensivo incompetente, e um quarterback incapaz. Tudo isso sobre a supervisão de um técnico que não sabe o que fazer.
A torcida parece saber o que precisa ser feito. Ela parece disposta a dar uma chance a Derek Carr, ou não, mas sabe que com certeza nada de bom sairá sob comando de Pete Carmichael. A demissão do coordenador ofensivo poderia ser uma solução, já de curto prazo, para consertar a temporada e o que resta dela.
Alguns times já fizeram isso. O Pittsburgh Steelers demitiu o seu coordenador ofensivo e no jogo seguinte venceu e colocou mais de 400 jardas no ataque pela primeira vez desde 2020. Coincidência?
Alguma coisa precisa ser feita. Chega de discursos. Kamara foi claro, apesar de não muito objetivo, em suas falas. Falar que precisa mudar, e não mudar nada, não está resolvendo os problemas e só está piorando as coisas.
A temporada está acabando, e algo precisa ser feito. Pra ontem. Se Dennis Allen não tem culhões, que alguém acima dele tenha a coragem necessária para, inclusive, trocar o head coach. Todo o time de treinadores vem desempenhando muito abaixo do esperado, e o time, que tinha boas expectativas, está naufragando em um mar de discursos vazios e desculpas esfarrapadas.
Update: Allen rebateu os comentários de Kamara, e disse “Eu não diria que não temos uma identidade. … Achei que corremos a bola de forma eficaz … fomos capazes de levar a bola para o campo de forma eficaz. Cometemos alguns erros críticos e se não cometermos erros críticos nessas situações, provavelmente estaríamos tendo uma discussão diferente. Acho que temos jogadores explosivos no ataque. Acho que provamos que podemos ser explosivos no ataque. Defensivamente, fazemos um bom trabalho ao tirar a bola do rival. Há algumas áreas em ambas as fases e em todas as três fases que precisamos melhorar. Acho que temos um ataque rápido e explosivo e uma defesa oportunista.”
(NOTA DE TRADUÇÃO DO ZÉ: nada vai mudar, vai continuar tudo igual, perdemos por um acidente, acaso do destino, não foi por que somos um time horrível)
Se o time continuar desse jeito, e por algum acaso do acaso, numa sorte muito grande, conseguir passar para os playoffs, pode ter certeza, vai ser muito mais por incompetência dos rivais de divisão que por méritos próprios.
Enquanto isso, a gente fica passando raiva e se sentindo frustrado, semana após semana. Mas vamos lá. Domingo tem mais.
Bora, Saints!
Foto da capa: Alvin Kamara brigando e muito, mas foi tudo em vão. (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)
Venha me ver falando bobagem e sofrendo com o New Orleans Saints em outros lugares, no antigo Twitter e no Instagram.