‘Não vou perder esse garoto de jeito nenhum’: A história por trás da mais recente trick play de Sean Payton
‘Não vou perder esse garoto de jeito nenhum’: A história por trás da mais recente trick play de Sean Payton
Ainda faltam cinco meses para o início da temporada de 2020 da NFL, se não mais, mas o New Orleans Saints já registrou sua primeira vitória.
Na batalha pelos serviços de Tommy Stevens, o placar não-oficial foi Saints 1, Panthers 0.
E para isso acontecer, foi necessária uma das maiores viradas da história do clube. Deixe-me explicar.
Se vocês se recordam, o Saints era mero espectador no sábado, o último dia do draft de 2020, depois de ter trocado suas escolhas remanescentes com Minnesota para adquirir o TE Adam Trautman no dia anterior. Os cabeças do Saints – Payton, GM Mickey Loomis, assistente de GM Jeff Ireland e o diretor dos profissionais Terry Fontenot – passaram a maior parte do sábado planejando a estratégia para a “oitava rodada” do draft – o período dos free agents não draftados, dia que é conhecido como o velho-oeste do draft.
Estas sessões funcionam de maneira livre para oficiais dos times, agentes e jogadores que foram ignorados no draft. Para UDFAs, os times têm um limite de orçamento salarial determinado pela liga que eles não podem exceder. Isso cria todo um mercado para os melhores jogadores, permitindo que seus agentes possam negociar bônus de contrato e valores garantidos de contrato maiores.
Free agents não-draftados recebem um convite para competir no training camp, mas não é garantido que eles farão parte do roster final. Mas como qualquer outro free agent, quanto maior é o investimento feito pelo time, maior é a chance de que o jogador permaneça.
Este é o mundo bizarro onde o ex-quarterback de Mississippi State, Tommy Stevens, se encontrava em negociação no final da tarde de sábado, enquanto a sétima rodada do draft estava acabando.
O Saints havia identificado o jogador de 1,95 m e 135 kg como um dos seus principais alvos. Eles viram nele uma versão maior de Taysom Hill, servindo como outro canivete suíço para o ataque. Então, no final da 6ª rodada, começaram a ligar para Stevens e seu agente, Buddy Baker, com o intuito de recrutá-lo e aumentar seu interesse.
O interesse era mútuo, mas havia um problema: o Panthers estava igualmente interessado nos serviços de Stevens.
O coordenador ofensivo em seu primeiro ano pelo Panthers, Joe Brady, conhecia Stevens muito bem. Ele era um assistente graduado em Penn State quando Stevens assinou com o Nittany Lions em 2015. O chefe de Brady em PSU, Joe Moorhead, acabou trabalhando como head coach em Mississippi State e levou Stevens via transferência anos depois.
É desnecessário dizer que Brady levava vantagem por Stevens.
Mas o Saints tinha algo mais importante: um Payton motivado, que, juntamente com Ireland, assumiu a missão de recrutar Stevens. A dupla começou a fazer ligações para Stevens e Baker.
O Saints descobriu que o Panthers havia oferecido a Stevens um bônus de US$ 15.000 e um salário garantido de US$ 30.000, uma oferta relativamente modesta. Baker estava disposto a aceitá-la e, assim, tirar Stevens da possibilidade de se tornar um Taysom 2.0 em New Orleans.
“Nós conhecemos a função”, Payton disse. “Nós a inventamos”.
A equipe de Stevens estava impassível. Eles já estavam comprometidos com outro time.
A tocha competitiva de Payton estava acesa. Não se tratava apenas de outro time atrás de seu alvo. Tratava-se de um rival de divisão, e acontece que o primeiro recrutador de Stevens lá também já havia sido assistente ofensivo na comissão técnica do Saints.
O hiper-competitivo Payton vive para este tipo de coisa. Este é o cara que compete regularmente com Drew Brees e os outros quarterbacks do Saints nos desafios de QB que acontecem depois dos treinos e que se transforma no infame Sean “mascador de chicletes de domingo” nas sidelines durante os jogos.
“[Recrutar Stevens] virou meu projeto ”, disse Payton.
Estava mais para uma cruzada.
Payton ligou de volta e dobrou a aposta. O Saints aumentou sua oferta para US$ 144.000 de salário garantido. A equipe de Stevens disse que eles precisavam de tempo para colocar as propostas na balança. Por um tempo, ficaram silenciosos e pararam de atender as ligações do Saints.
O Saints estava de mãos amarradas. O Panthers atacou pelos flancos. Brady conseguiria ter seu jogador.
Criatividade é a mãe da invenção, e Payton traçou um plano.
“Vamos voltar para o draft”, Payton disse aos seus companheiros.
O Saints começou a ligar fervorosamente para times que ainda tinham escolhas a fazer. Ofereceram sua escolha de sexta rodada do draft de 2021 em troca de uma escolha alta de sétima rodada. Encontraram dois interessados: Minnesota com a escolha 244 e Houston na 240. O Saints fechou a troca com o Texans por volta de 17h15 (GMT-5) e rapidamente notificou o escritório da liga.
No mesmo instante, Payton disparou uma mensagem para Brady: “Não tão rápido”.
E disparou outra para Stevens e Baker: “Cansei de pedir. Resolvi levar de uma vez”.
Segundos depois, o Comissário da NFL, Roger Goodell, anunciava a troca na transmissão pela TV, seguida do anúncio da escolha geral de nº 240 por Stevens na sétima rodada.
Stevens e Baker estavam indiscutivelmente chocados, assim como, tenho certeza, de que estavam Brady e o Panthers.
De volta a New Orleans, os cabeças do Saints celebravam.
“[O Panthers] achou que tinha o jogador assinado, selado e entregue”, disse Ireland no podcast do Saints na segunda-feira. “[O] agente não estava falando de verdade conosco, então decidimos que nós iríamos tirá-lo dele. … Eu e Payton temos uns lances competitivos entre nós do tipo, ‘Nós queremos tal jogador. Não vamos deixar ninguém levá-lo’”.
Desapontado, Baker ligou para Payton para garantir que não havia nenhuma mágoa da parte dele ou de seu cliente. Pedindo desculpas, Stevens disse a Payton que se sentiu preso porque havia feito um compromisso com o Panthers.
“Eu disse, honestamente, que eu havia me divertido”, disse Payton. “Você deu sua palavra e eu respeito isso. Mas nós não íamos perdê-lo. Você tinha que se tornar um Saint”.
Uma fonte disse que, mais tarde, Brady disse poucas e boas ao coordenador ofensivo do Saints, Pete Carmichael, numa mensagem “amigável”.
Esta história é típica de Payton. Isso daqui é ele indo para a guerra por um jogador que não ficou nem entre os 28 melhores quarterbacks prospectos de acordo com o analista de draft do The Athletic, Dane Brugler; um jogador que pode nem vir a compor o roster do Saints. E diz tudo sobre a característica competitiva de Payton. Isso o levou ao topo em sua profissão e ajudou a transformar o Saints, adoráveis perdedores, em um dos times mais bem sucedidos e de alto nível da NFL.
“Não vou perder esse garoto de jeito nenhum”, disse Payton, dias depois, ainda se banhando na glória do momento.
Ainda não sabemos quando ou se a temporada da NFL vai começar. E quando começar, ninguém sabe se Stevens estará entre os 53 jogadores do roster. Se não estiver, há uma chance do Panthers roubá-lo de volta, trazendo-o dos waivers e colocando-o como parte do seu roster ativo. Na verdade, é possível que Stevens nunca jogue uma descida sequer pelo Saints ou pelo Panthers em sua carreira, e a jogada maquiavélica de Payton vai render uma boa reflexão.
Há muitas incertezas no mundo em que vivemos hoje.
Mas uma coisa é certa: Sean Payton, um dos melhores em chamar jogadas na história da NFL, sabe como contornar um problema por telefone.
(Photo: Carmen Mandato / Getty Images)
Traduzido de: Jeff Duncan
Traduzido por: Marcelo Chaves