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Como chamadas perdidas contribuíram para o atraso na cirurgia de Michael Thomas

Como chamadas perdidas contribuíram para o atraso na cirurgia de Michael Thomas

No final do treino de sexta-feira (6), o ataque do New Orleans Saints saiu do huddle com Chris Hogan alinhado bem na ponta do lado esquerdo da formação, Ty Montgomery alinhado ao lado direito dele no slot, e Devonta Freeman no backfield.

Depois do snap, Montgomery recebeu uma rápida bubble screen e disparou para um avanço curto, recebendo uma salva de palmas dos por volta de mil torcedores que assistiam.

Eu não sei como eles chamam aquela jogada, mas ela deveria ser chamada de Michael Thomas Special. Pois aquele agrupamento específico de jogadores não aconteceria se o wide receiver estrela do Saints tivesse dado conta do recado nas férias.

A essa hora, você já sabe que Thomas está fora de combate por tempo indeterminado enquanto se recupera de uma cirurgia no tornozelo feita em Junho.

O que vocês talvez não saibam é o que levou a essa situação tão estranha e inoportuna.

Como algo tão importante como isso foi negligenciado durante a offseason?

Por que se passaram meses antes do melhor wide receiver do time procurar tratamento para um tornozelo que ele havia machucado na temporada passada?

A resposta é complicada. Mas no fim, a culpa cai quase inteiramente em cima de Thomas. Direto e reto, o wide receiver mais talentoso da história do Saints dropou feio.

De acordo com várias pessoas próximas, foi assim que tudo aconteceu:

Depois da temporada de 2020, a equipe médica do Saints examinou o tornozelo esquerdo lesionado e o aconselhou-o a fazer a cirurgia para reparar os danos ligamentares da articulação.

Thomas, no entanto, quis ter uma segunda opinião, algo comum em casos tão complexos. O segundo médico sugeriu uma abordagem conservadora que permitiria a lesão se curar sozinha, através de reabilitação e fisioterapia.

Em Março, Thomas optou pela abordagem conservadora e não fazer a cirurgia, uma decisão que os Saints aprovaram. Um plano de reabilitação foi montado de acordo com os interesses de ambas as partes, e haviam sido estipuladas metas progressivas para Thomas bater pelos próximos três meses da sua recuperação enquanto treinava na sua casa de verão na Califórnia.

E foi aí que as coisas inexplicavelmente começaram a dar errado.

Por razões até agora desconhecidas, Thomas parou de se comunicar com os Saints. Ele não atendeu nem retornou diversas ligações pelos três meses seguintes. O até então treinador do Saints Beau Lowery, o treinador de recebedores da equipe Curtis Jonhson, e até mesmo o treinador principal Sean Payton tentaram entrar em contato com Thomas. Nenhum deles foi atendido ou recebeu qualquer retorno.

Quando Thomas retornou ao time em Junho, foi descoberto que seu tornozelo ainda não estava bem, e ele teve que fazer a cirurgia para reparar os danos ligamentares na articulação. A reabilitação deve durar de dez a doze semanas, o que deve tirá-lo das primeiras semanas da temporada regular.

A perda de Thomas criou um efeito dominó no elenco. Para incrementar o corpo de wide receivers, o time assinou com Chris Hogan e moveu Montgomery de volta de running back para wide receiver. Depois, assinaram com Devonta Freeman para substituir Montgomery no backfield.

Toda essa mudança desnecessária no elenco poderia e deveria ter sido evitada, caso Thomas tivesse apenas e tão somente seguido o plano previamente acordado.

Se Thomas estava sendo teimoso, negligente, ou ambos ao mesmo tempo, é irrelevante. Uma fonte diz que Thomas simplesmente achou que seu tornozelo estava bem e que ele estava fazendo a recuperação corretamente. De qualquer maneira, sua decisão de desaparecer e não responder os seus superiores é inexplicável e inaceitável. Sinceramente, ele é muito sortudo do time não tê-lo multado por insubordinação.

Além disso, se esse fosse um incidente isolado, seria mais facilmente engolido. Mas essa foi a segunda bola fora de Thomas no último ano, depois da sua suspensão por um jogo após uma briga em um treino com o colega de equipe C.J. Gardner-Johnson e Sean Payton em Outubro.

A briga foi uma coisa. Jogadores podem perder a calma em momentos tão tensos e ambientes tão competitivos. Acontece.

Porém isso foi algo completamente diferente, um padrão de comportamento durante um período extenso de tempo. Claramente nunca deveria ter chegado ao ponto que chegou, e agora o Saints – e Thomas – precisam lidar com as consequências.

“Ficamos decepcionados”, disse Payton quando questionado sobre a situação. “Gostaríamos que a cirurgia tivesse ocorrido mais cedo do que ocorreu. E para ser sincero, deveria ter ocorrido.”

Payton possui boa relação com Thomas, mas a estrela da equipe testou a paciência de seu treinador com seu erro mais recente.

Ao que tudo indica, Thomas tem sido um bom rapaz desde o incidente e está no caminho da recuperação. E os Saints se mantém esperançosos em relação ao seu jovem corpo de recebedores – especialmente Marquez Callaway, que têm se mostrado a estrela em ascenção do training camp. Existem alguns que acreditam até que o ataque se dará tão bem quanto antes sem Thomas. Isso só o tempo dirá.

Porém certamente não é dessa maneira que você quer começar seu primeiro training camp da era pós-Drew Brees.

E esse tipo de coisa simplesmente não acontece no Saints. Comunicação sempre foi um ponto forte da organização, especialmente em relação aos próprios jogadores.

Payton é formado em comunicação por Eastern Illinois e mantém uma linha aberta de comunicação com os funcionários e jogadores. Seu mentor, Bill Parcels, era grande defensor da transparência e enfatizava a Payton a importância de ser brutalmente honesto com seus jogadores e assistentes a todos os momentos.

“Acredito que isso é muito importante”, disse Payton. “Você passa tanto tempo com todo mundo que, ao fim do dia, você está criando confiança e credibilidade para o seu programa. Isso começa desde nós, treinadores, e os jogadores tem que comprar a ideia ou não. Quando você cria uma cultura, você fica animado e isso é ótimo de se ver. E sinto que isso nos traz resultados todo ano. Jogadores querem vir jogar aqui. E nossos melhores vendedores da ideia são nossos próprios jogadores.”

O imbróglio de Aaron Rodgers com a gerência de Green Bay nunca aconteceria em New Orleans. Se houvesse algum problema entre o quarterback estrela do time e o front office, ele teria sido resolvido muito antes de chegar ao ponto que chegou o caso em Green Bay.

Existe uma razão para a relação de Payton e Brees ser tão harmoniosa por tanto tempo. Ambos eram comunicadores excepcionais.

Quando o Saints achou que poderia estar em posição de draftar Patrick Mahomes no Draft de 2017, Payton fez questão que Brees estivesse ciente da situação antes mesmo que chegasse a vez do time escolher. Ele não queria que o quarterback do time fosse pego de surpresa com o time selecionando seu futuro substituto na primeira rodada.

“Sean fala a real para eles (os jogadores)”, disse o coordenador defensivo Dennis Allen, que foi o treinador principal do Oakland Raiders em 2012 e 2013. “É uma das razões porque querem jogar aqui. Porque ele faz as coisas do jeito certo.”

Outro exemplo ocorreu em Junho, quando o Saints reestruturou o contrato de um ano de Marshon Lattimore. Essa movimentação criou por volta de 7 milhões de dólares em cap space, que permitiu ao time assinar com sua classe de calouros draftados e mais um ou outro veterano antes do training camp. Mas também ajudou Lattimore.

Como Lattimore deverá receber diversas multas disciplinares da liga por conta de sua prisão por porte ilegal de arma, ele provavelmente perderia milhões de dólares em salários relativos aos jogos.

Ao converter 9,2 milhões dos seus 10,2 milhões relativos a salário base, em um bônus por ficar no elenco principal, Lattimore recebeu a maioria do seu dinheiro logo de cara. O Saints o fez economizar até 2 milhões de dólares, caso a NFL decida suspendê-lo pelos primeiros 4 jogos da temporada.

Payton também ajudou Emmanuel Sanders no fim da temporada passada, quando ele fez questão que o recebedor batesse uma meta de 500 mil dólares ao lhe dar de presente várias recepções em sequência no último jogo da temporada regular.

Esse tipo de coisa causa um impacto enorme no vestiário. O time sabe que os treinadores e a gerência estão cuidando deles. Consequentemente, o New Orleans Saints ganhou a reputação de ser uma das organizações mais funcionais e admiradas pelos jogadores para se jogar na liga. É por isso inclusive que o cornerback Janoris Jenkins chamou a organização de “sem sombra de dúvida” a melhor organização pela qual já atuou em sua carreira na NFL, e também porque Sanders elogiou Payton diversas vezes durante a offseason.

“Desde o primeiro dia, Sean diz a todos os jogadores: ‘Vamos tratá-los como homens, e vamos tratá-los dessa maneira até vocês nos darem uma razão para deixarmos de fazer assim”, disse Zach Strief, o assistente de linha ofensiva do Saints, que jogou na equipe de 2006 a 2017. “Essa honestidade permeia todas as instalações. Até mesmo fora daqui, todos sabem que o Saints toma conta dos seus caras.”

Esperamos que Thomas comece logo a entender e apreciar a situação em que se encontra no momento em New Orleans. Pois caso não o faça, ele não ficará por aqui por mais muito tempo.

Traduzido de: nola.com

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