COLUNA DO ZÉ: Mediocracia
COLUNA DO ZÉ: Mediocracia
Por José Eduardo Zanon
Salve, torcedor dos Saints!
A temporada acabou e eu fiquei pensando se escreveria mesmo alguma coisa por aqui. Eu sei que tinha prometido a vocês, meus quatro leitores, na minha última coluna, voltar na semana seguinte e dar um tapa na temporada 23-24 do New Orleans Saints. Mas não consegui, não sou tão bom assim. Disciplina zero. Um escritor medíocre.
Segundo Oxford Languages:
Medíocre
ADJETIVO
1. de qualidade média, comum; mediano, meão, modesto, pequeno
“salário medíocre, condição medíocre” · “vida medíocre, espírito medíocre”
PEJORATIVO
2. sem expressão ou originalidade; mediano, pobre, banal, passável
“texto medíocre”
3. diz-se de ou pessoa pouco capaz, sem qualquer talento, que, de modo geral, fica aquém das outras ou que, num dado campo de atividades, não consegue ultrapassar ou mesmo atingir a média
“artista medíocre” · “o (indivíduo) medíocre nem sempre é facilmente identificável”
Mas aí lembrei que medíocre é a palavra que define a temporada 23-24 do New Orleans Saints. Uma temporada que termina com mais vitórias que derrotas, sim, eu sei. Mas 9 vitórias e 8 derrotas não é nada além de medíocre.
Um péssimo começo
Os Saints, através de seu general manager Mickey Loomis, escolheram pela mediocridade. Ao manter o head coach Dennis Allen e coordenador ofensivo Pete Carmichael, isso ficou óbvio. O ano de 2022 não deu nenhum sinal de que eles deveriam continuar. Mas mesmo assim, ficaram por uma temporada inteira.
E essa dupla trouxe ainda um quarterback de mediano pra ruim, Derek Carr. Apesar da sua arrogância e de seu ego que não cabe no Caesars Superdome, ela nada mais é do que isso. Medíocre.
E um medíocre daqueles que culpa todo mundo. A culpa era de todo mundo, até das lesões, menos dele. Uma boa parte da torcida pegou ranço desse cara. Eu acho ele tão mais ou menos que não consigo nem odiar. Mas também não gosto, não dá.
A torcida de New Orleans tirar sarro em um carro alegórico, durante o Mardi Gras, e ele ir na onda, dizer que “na primeira metade da temporada eu realmente estava me sentindo assim”, pra mim fez ele parecer mais paga lanche ainda. Maldito zumbi medíocre.
O cara simplesmente foi um dos principais responsáveis por lesionar, em momentos diferentes da temporada, todos os wide receivers do time. Drew Brees, a lenda, e um tal de Tom Brady, por exemplo, falavam muito sobre isso, sobre o local onde eles colocavam a bola (ball placement) para os recebedores não ficarem expostos a uma pancada dos defensores. Mas aí estamos falando da grandeza, eu sei, não dá nem pra comparar.
Se você deixar seus recebedores morrerem em campo, você vai lançar a bola pra quem? Carr não é um novato, ele já tem trocentos anos de liga. Se não aprendeu isso até hoje, não vai aprender mais. Medíocre.
Ah, a culpa é dele e ele pode colocar a culpa em quem ele quiser. Inclusive numa linha ofensiva medíocre. Sim, tivemos problemas com isso. Mas você ser lerdo e ficar com a bola por 5 segundos não vai te ajudar em nada. Você ter uma dupla de running backs fantástica, incluindo o recordista de touchdowns da temporada anterior, Jamaal Williams, e o cara que dispensa apresentações, Alvin Kamara, e simplesmente não saber usar o jogo corrido, também não vai te ajudar em nada. Medíocre.
Um milagre que não veio
O New Orleans Saints tinha, segundo especialistas, a tabela de jogos mais fácil de toda a liga. Na somatória, os adversários mais fracos. E mesmo assim, o time passou quase toda a temporada com recorde negativo de vitórias. Medíocre demais.
Chegou à última semana da temporada regular dependendo de vitórias de Chicago Bears e Carolina Panthers sobre Green Bay Packers e Tampa Bay Buccaneers, respectivamente. Se isso não é ser medíocre, não sei o que mais poderia ser.
E a esperança é o que mata o torcedor de New Orleans…
Terminou a temporada com recorde positivo de vitórias, 9-8, “uau, olha aí, sensacional, vamos manter o head coach, ele finalmente, depois de sua 5ª temporada como técnico principal na NFL, conseguiu um recorde positivo”. Medíocre.
“Olha, ele mandou o Pete Carmichael e quase todos os técnicos embora, agora vai”. Não, não vai. Sabe por quê? Porque ficou o Dennis Allen, e ele é medíocre.
Aquele pedido de desculpas, depois da vitória contra o Atlanta Falcons, na última semana, porque o QB reserva Jameis Winston passou entregou a bola para Jamaal Williams anotar seu primeiro e único touchdown na temporada, no que foi chamado de uma decisão coletiva dos jogadores, foi o pedido de desculpas mais patético que já vi. Ridículo, desnecessário e mostrou que ele não está em sintonia com o grupo de jogadores. Medíocre demais.
Pode dar certo?
Olha, às vezes a mediocridade é recompensada. Nessa temporada, particularmente, eu vi muito disso. Muitos times apostaram na mediocridade e conseguiram o sucesso, de uma maneira ou de outra.
O campeão do Superbowl LVIII, o Kansas City Chiefs, apostou num corpo de recebedores medíocres e funcionou, muito mais porque eles tem um quarterback sem igual e uma defesa sensacional.
O outro time do Superbowl, o San Francisco 49ers, novamente apostou num QB mediano, o Mr. Irrelevant Brock Purdy, e não foram campeões por muito pouco. Tem QB mais medíocre que Jared Goff? Ele quase chegou lá com o Detroit Lions.
Os Saints perderam a vaga nos playoffs para dois times que também apostaram na mediocridade. Os Packers com Jordan Love e os Bucs com o padeiro Mayfield tiveram mais sucesso que os Saints, e ainda conseguiram avançar para a segunda semana dos playoffs.
Analisando essas coisas: sim, dá pra ter sucesso sendo medíocre. Mas qual a possibilidade disso acontecer?
Vai ser difícil
Prevejo uma temporada difícil pela frente. Em vários aspectos. O problema do teto salarial continua sendo empurrado com a barriga para a frente. Um dia essa conta chega. Mas esse drama será resolvido para essa temporada, para tristeza dos rivais. Como sempre acontece.
Temos muitos jogadores se tornando free agents nessa pós temporada. Muitos devem sair, poucos devem voltar. O WR Michael Thomas é um dos que se vai, com certeza, até por conta de suas declarações e por conta das declarações de Derek Carr a seu respeito.
Dennis Allen agora tem o quarterback que ele queria trazer, agora todos os coordenadores e técnicos especialistas são de sua escolha, agora tudo é do jeito que ele queria. É tudo ou nada. Eu aposto em nada. De onde menos se espera é que não sai nada mesmo.
Trouxeram sangue novo para coordenador ofensivo, Klint Kubiak, e um sangue nem tão novo para outros cargos de técnico. O que irá acontecer? Que o destino seja como os deuses do esporte quiserem.
Tinha tanta coisa pra falar, mas não cabe tudo aqui, senão a Jéssica me mata. Sobre o futuro, eu escreverei no retorno da Coluna do Zé na temporada 24-25. Isso pode ser a qualquer hora. Na janela de renovação de contratos, de contratação de novos jogadores. Ao fim de mais um draft. Um dia desses.
Só quero deixar meu agradecimento a todos vocês que me acompanharam durante toda essa temporada, a toda equipe que cuida aqui do site do Mundo Who Dat e do nosso ex-Twitter e da nossa conta no Instagram, esses caras são foda, e principalmente a Jéssica por cuidar de revisar meus posts e da newsletter no Substack. Aliás, assine, próxima temporada tem mais. Ou não.
E não deixe de ouvir os últimos episódios do We Dat Podcast da temporada. Eu, inclusive, estou no episódio 129, Ódio e Impropérios. Imaginem o que saiu ali. Vale a pena conferir o desabafo geral.
Enquanto isso, seguimos no mais triste “What if…” que posso imaginar. O que aconteceria se o New Orleans Saints tivesse conseguido contratar Patrick Mahomes no Draft de 2017, a melhor classe de calouros da história dos Saints. Uma lágrima chega a escorrer.
Mas vamos lá. Na próxima temporada tem mais. E a gente segue com a esperança de dias melhores. E não tão medíocres.
Bora, Saints!
Foto da capa: Derek Carr na semana 1 da temporada regular: havia esperança. (Michael C. Herbert / New Orleans Saints)
Venha me ver falando bobagem e sofrendo com o New Orleans Saints em outros lugares, no antigo Twitter e no Instagram.